ou A palavra mordida
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A reunião de escritos produzidos por um admirador das palavras – Daniel Estill, jornalista, tradutor e escritor falecido em 2021, gaúcho de alma carioca, fala em Rio abaixo, Rio acima ou A palavra mordida sobretudo de vida, amadurecimento e do Rio de Janeiro. Não de vidas quaisquer, mas daquelas vividas com intensidade, e narradas nos detalhes que só um olhar atento e sensível seria capaz de captar. E não de um Rio de Janeiro qualquer, mas da cidade que existe para além dos estereótipos, que existe na universidade pública, nas ruas do Centro, nas editorias de jornais.
Erguidos quase todos sobre memórias, os doze contos do livro poderiam entrar no rol dos romances de formação, da autoficção ou das cartografias afetivas dos lugares onde nos criamos. Do velho Rachid, protagonista de “Tsunami”, que abre a coletânea, a Daniel, de “Demissão”, a quem o autor empresta o próprio nome, cada personagem tem sua cota de ficção e realidade, de conforto e de fracasso.
O fracasso, aliás, uma reflexão constante ao longo das páginas – um sentimento que, nas linhas escritas por Daniel, caminha junto da esperança, às vezes franca, às vezes torta, de que invariavelmente o fracassar nos engrandece.
Uma obra não para devorar, mas para ler; que não tem pressa de entregar o que tem guardado. Como diz José Castello no Prefácio do livro, é justamente essa despretensão de eletrizar, de prender a qualquer preço, que dá ao livro um espírito sutil de suspense – a tensão delicada que, se pensarmos bem, é a tensão da própria vida. Recomenda-se ao leitor morder com gosto cada palavra, com a plena consciência de que será mordido de volta.
“Daniel Estill nos faz ver as palavras se entranhando em nosso corpo.
José Castello
Como separá-los? Impossível.”
DANIEL ESTILL
foi um escritor, tradutor e jornalista carioca. Doutor em Estudos da Linguagem pela PUC-Rio, onde também lecionou, e mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP, por mais de trinta anos trabalhou com traduções técnicas e literárias, tendo colaborado com as maiores editoras do país, como Companhia das Letras e Record. Destacam-se, entre as dezenas de títulos que produziu, a tradução de O espantalho e seu criado, de Philip Pullman, que recebeu a Menção Altamente Recomendável na categoria Tradução/Adaptação Jovem da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, FNLIJ; Mortalha para uma enfermeira, de P. D. James; Deu no New York Times, de Larry Rohter; Peregrinos, de Elizabeth Gilbert. Em 2013, criou a TradWiki, enciclopédia on-line colaborativa sobre tradução e interpretação. Ao longo da carreira, escreveu para os jornais O Globo e Rascunho como resenhista literário. Sua tese inovadora sobre tradução, tecnologia e globalização foi indicada para os prêmios de melhor tese da Capes e da Anpoll.