A SABEDORIA DO MESTRE
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Stephen King, o mestre do terror e suspense, reconhece e valoriza a importância do trabalho do editor. No terceiro prefácio de seu livro Sobre a escrita, ele escreve:
“Uma regra prática que só será dita objetivamente aqui é: ‘O editor sempre tem razão.’ Diz o corolário que nenhum escritor aceita todos os conselhos dos editores, pois são todos pecadores aquém da perfeição editorial. Dito de outra forma, escrever é humano, editar é divino. Chuck Verrill editou este livro, como fez com inúmeros romances meus. E, como de costume, Chuck, você foi divino.”
Um bom editor certamente faz toda a diferença!
BOTANDO LENHA NA FOGUEIRA
“Quem escuta uma história está na companhia do narrador; mesmo quem a lê partilha dessa companhia. Mas o leitor de um romance é solitário. Mais solitário do que qualquer outro leitor (pois mesmo quem lê um poema está disposto a declamá-lo em voz alta para um ouvinte ocasional). Nessa solidão, o leitor do romance se apodera ciosamente da matéria de sua leitura. Quer transformá-la em coisa sua, devorá-la, de certo modo. Sim, ele destrói, devora a substância lida, como o fogo devora a lenha na lareira. A tensão que atravessa o romance se assemelha muito à corrente de ar que alimenta e reanima a chama.” — Walter Benjamin
Quando escrevemos um romance, temos que pensar em como vamos alimentar a curiosidade do leitor, como vamos prender sua atenção. Já pensaram nisso?
Perguntem-se: “Que combustível posso usar para alimentar o fogo do leitor?”
O TESTE DA GAVETA
“Às vezes, basta uma pequena mudança de perspectiva para vermos algo familiar a uma luz completamente diferente.” — Dan Brown (O símbolo perdido, 2009)
Muitas vezes, escrevemos um texto e achamos que ele está claríssimo e que não deixa margem para nenhuma dúvida. Mas, quando outra pessoa lê, ela tem um entendimento diferente do que esperávamos!
Tem ainda a questão de que, assim que você acaba de escrever um texto, já passou tanto os olhos pelas palavras que se dessensibiliza a possíveis erros e incoerências, pois já começa a ler algumas partes no automático.
Por isso é tão importante que escritoras e escritores deixem o texto descansar um pouco antes de relê-lo e revisá-lo. Coloque-o em uma gaveta por algum tempo, para poder abordá-lo com um olhar fresco. Da mesma forma, também é muito importante contar com outras pessoas lendo o seu texto, para que apontem possíveis pontos que deixam dúvidas, possíveis discrepâncias e trechos confusos.
Entre o texto final do autor e o exemplar que chega às mãos do leitor, o livro passa por inúmeras leituras de diversas pessoas, sempre com o intuito de melhorar o texto. Não se trata apenas de correção gramatical, mas também de aspectos narrativos.
Quando o autor recebe um feedback de alguém, ele pode mudar a perspectiva e enxergar o próprio texto de outra forma, exatamente como diz essa citação de Dan Brown.
ESCREVER É TOMAR DECISÕES CONSTANTEMENTE
Essa frase do Rubem Fonseca é genial na sua simplicidade.
O processo criativo de escrita costuma ser muito romantizado. Muita gente acha que basta decidir escrever, começar e tudo vai se resolver, quase como se a história se “escrevesse sozinha”. Na verdade, isso está bem longe da realidade.
A escritora ou o escritor, diante da página em branco, precisa ser capaz de tomar milhares de decisões, pequenas ou grandes, simples ou complexas. E cada uma dessas decisões vai ter um impacto na história que está contando.
Começar a escrever já vem acompanhado de fazer várias escolhas. Por exemplo:
- Que história quero contar?
- Como quero contar?
- Para quem quero contar?
Responder a essas três perguntas ajuda o autor ou autora a definir a trama, o gênero e o público-alvo do livro.
Com isso em mente, fica mais fácil tomar outras decisões sobre os personagens, como agem e como interagem no desenvolvimento da história.
No entanto, é muito comum que escritoras e escritores — iniciantes ou não — se percam no processo, pois várias escolhas que fazem ficam no nível do inconsciente, e por isso talvez nem saibam responder por que um personagem agiu de determinada forma ou o porquê de alguma reviravolta. Nesse sentido, acreditamos que, quanto mais conscientes as escolhas, melhor é o desenvolvimento da história.